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Chantal Akerman, 1085, Rua Demétrio Ribeiro, Porto Alegre
27 de fevereiro de 2025

 

Entre os dias 7 e 16 de março, a Cinemateca Capitólio apresenta a mostra Chantal Akerman, 1085, Rua Demétrio Ribeiro, Porto Alegre, dedicada à cineasta belga que é considerada um dos nomes mais influentes do cinema contemporâneo.

A programação reúne um conjunto de 12 filmes dirigidos por Akerman, em cópias restauradas pela Cinematek de Bruxelas, incluindo uma sessão de Jeanne Dielman, 23, quai du commerce, 1080 Bruxelles –  eleito recentemente o melhor filme de todos os tempos segundo a lista da prestigiosa revista inglesa Sight and Sound.

A mostra tem curadoria da professora e pesquisadora Daniela Strack e apoio da distribuidora FILMICCA. Todas as sessões têm entrada franca.

 

CHANTAL AKERMAN

Chantal Akerman nasceu em Bruxelas em 1950. Decidiu se tornar cineasta aos 15 anos, após assistir ao filme O demônio das onze horas (Pierrot le Fou, 1965), de Jean-Luc Godard. Em 1967, ingressou no curso de cinema do Instituto Nacional Superior de Artes do Espetáculo e Técnicas de Difusão de Bruxelas (INSAS), mas abandonou a faculdade por rejeitar a rigidez da formação acadêmica. De forma independente, dirigiu e protagonizou o seu primeiro curta-metragem, Exploda minha cidade (Saute ma ville, 1968). Em 1970, mudou-se para Nova York, onde teve contato com o trabalho dos cineastas experimentais Jonas Mekas e Michel Snow, cujas influências foram marcantes em seu primeiro longa-metragem, Hotel Monterey (1973).

Em 1974, retornou à Bélgica e dirigiu seu segundo longa, Eu, tu, ele, ela (Je, tu, il, elle, 1974). Aos 25 anos, conseguiu o financiamento para realizar o filme mais emblemático da sua carreira, Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975), que estreou na Quinzena de Cineastas do Festival de Cannes. Com essa obra, Akerman conquistou seu reconhecimento internacional e consolidou seu trabalho como diretora. Sua trajetória foi prolífica, com mais de 50 projetos dirigidos por ela, além de expandir sua atuação para o universo das instalações artísticas em galerias e museus ao redor do mundo, sem contar sua produção literária. Até o fim da sua vida, em 2015, manteve vivo o seu desejo de experimentação através das imagens, realizando filmes de longa e curta duração, explorando os diferentes gêneros cinematográficos (do documentário autobiográfico ao musical) e utilizando diferentes tecnologias em suas produções (películas em 35 e 16mm, pequenas câmeras caseiras, etc.).

Diante de uma obra tão vasta, encontrar um traçado que percorra toda a filmografia de Chantal Akerman é uma tarefa bastante desafiadora. À primeira vista, poderíamos sublinhar o olhar feminista que é frequentemente atribuído à Akerman, especialmente após Jeanne Dielman – no qual ela retrata o cotidiano metódico e repetitivo de uma dona de casa interpretada por Delphine Seyrig. Ou ainda, pela insistência da cineasta em colocar sua mãe no centro de boa parte da produção documental – como em Notícias de casa (1976), onde imagens de Nova Iorque só adquirirem ritmo e sentido quando narradas a partir das cartas escritas por Natalia Akerman.

Contudo, ancorar o cinema de Chantal Akerman apenas a esta perspectiva é navegar na superfície das imagens inventadas por ela. Em certa medida, essa ênfase exacerbada parece funcionar como um atalho fácil para decifrar imagens que não parecem dispostas a participar de um jogo de adivinhação, colocando em segundo plano a discussão sobre o que há de essencial em seu cinema. O que torna Chantal Akerman e seu Jeanne Dielman um marco fundamental da historiografia do cinema não é só o fato de ser o primeiro filme dirigido por uma mulher a ocupar o topo da lista da revista Sight and Sound, mas, sobretudo, o modo como ele revolucionou para sempre a linguagem cinematográfica.

A nosso ver, esta revolução está relacionada à capacidade de Akerman em dar uma existência cinematográfica a gestos cotidianos, fazendo com que estes pequenos atos se prolonguem, de forma quase transcendental, naqueles que assistem ao filme. É como se, por meio da duração dos planos e das ações em cena, Akerman provocasse um processo de decantação dos gestos. Decantação, esta, que se inicia no momento da sua captura, com o enquadramento fixo da câmera, e se completa na sala de cinema, por meio da experiência sensorial que toma o corpo daqueles que assistem ao filme. Assim, a cineasta estabelece uma conexão entre dois espaços antes apartados: o espaço doméstico e o espaço cinematográfico da sala de projeção – questão que perpassa muitos de seus filmes.

Se é possível afirmar que Chantal Akerman nos propõe algum jogo em seus filmes, este parece ser o da experimentação do espaço, do tempo e do movimento através da imagem cinematográfica. A programação da mostra Chantal Akerman, 1085, Rua Demétrio Ribeiro, Porto Alegre é, portanto, um convite para que espectadoras e espectadores participem desse jogo, para que cada um possa formar o seu arabesco particular em torno do elemento essencial (e inatingível) das imagens feitas por esta grande cineasta.

Daniela Strack

 

 

GRADE DE HORÁRIOS

 

7 de março (sexta-feira)

19h30 – A Prisioneira

 

8 de março (sábado)

18h30 – A Loucura de Almayer

 

9 de março (domingo)

16h30 – Do Leste

19h – Toda Uma Noite

 

11 de março (terça-feira)

19h30 – Os Encontros de Anna

 

13 de março (quinta-feira)

19h30 – Eu, Tu, Ele, Ela

 

14 de março (sexta-feira)

19h30 – Projeto Raros: 15 de Agosto + A Mudança

 

15 de março (sábado)

16h30 – Anos Dourados

18h30 – Exploda Minha Cidade + Notícias de Casa + debate

 

16 de março (domingo)

17h – Jeanne Dielman

 

 

 

SINOPSES

 

Exploda minha cidade

(Saute ma ville)

Bélgica | 1968 | 13 min | DCP

Classificação: 14 anos [LEG]

Nos subúrbios de Bruxelas, uma jovem na cozinha de seu apartamento esfrega o chão, lustra os sapatos, dança, cozinha, bebe vinho, então ela fecha a porta com fita adesiva, abre o gás e explode tudo – cantarolando o tempo todo.

 

15 de agosto

(Le 15/8)

França/Bélgica | 1973 | 44 min | DCP

Em meados de agosto em Paris, em um apartamento ensolarado e silencioso, uma jovem mulher fala, pensa, reflete sobre si mesma. A vida cotidiana e pequenos eventos em um longo e ininterrupto monólogo. A câmera retrata a mulher e seus gestos em planos longos e fixos se movendo pelos cômodos, o espaço, a luz e as sombras de um dia de verão.

 

Eu, tu, ele, ela

(Je, tu, il, elle)

Bélgica/França | 1974 | 82 min | DCP

“Eu” é uma jovem trancada em seu quarto. “Tu” é o roteiro. “Ele” é um caminhoneiro. “Ela” é a namorada. Em seu primeiro longa-metragem provocativo, Chantal Akerman interpreta uma jovem sem rumo que deixa o isolamento autoimposto para embarcar em uma viagem que leva a casos de amor solitários com um motorista de caminhão e uma ex-namorada. Com seu famoso encontro carnal em tempo real e seu minimalismo ousado, Eu, Tu, Ele, Ela é o filme mais sexualmente audacioso de Akerman.

 

Jeanne Dielman

(Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles)

Bélgica/França | 1975 | 201 min | DCP

Três dias na vida de uma mulher, uma dona de casa viúva e solitária, cujas tarefas incluem arrumar as camas, preparar o jantar para seu filho adolescente e alguns truques para sobreviver. Lentamente, sua ritualizada rotina diária começa a desmoronar.

 

Notícias de casa 

(News from home)

Alemanha/Bélgica/França | 1976 | 86 min | DCP

A cineasta belga Chantal Akerman mora em Nova York. As imagens filmadas da cidade americana são acompanhadas pelos textos da sua amorosa mãe que vive em Bruxelas. Enquanto as imagens da cidade de Nova York se aproximam cada vez mais, as palavras da mãe, lidas pela própria Akerman, gradualmente desaparecem.

 

Os encontros de Anna

(Les rendez-vous d’Anna)

Alemanha/Bélgica/França | 1978 | 122 min | DCP

Anna, uma cineasta talentosa, percorre uma série de cidades europeias para promover seu filme mais recente. Por meio de uma sucessão de encontros curtos e misteriosos, primorosamente filmados, com homens e mulheres, familiares e estranhos, acompanhamos seu distanciamento emocional e físico do mundo.

 

Toda uma noite

(Toute une nuit)

Bélgica/França | 1982 | 90 min | DCP

Vários casais se encontram, fazem amor, se separam, dançam, bebem, comem, falam ao telefone e dormem durante uma noite quente de verão em Bruxelas. Seguindo mais de duas dúzias de pessoas diferentes na atmosfera quase sem palavras de uma noite escura na cidade de Bruxelas, Akerman examina aceitação e rejeição no reino do romance.

 

Anos dourados

(Les années 80)

Bélgica/França | 1986 | 96 min | DCP

Em um shopping, entre o salão de beleza da Lili, a loja de roupas da família Schwartz e o bistrô da Sylvie, funcionários e clientes se cruzam, se encontram e sonham com o amor comprometido ou impossível. Eles falam, cantam e dançam. Um musical exuberante, colorido e divertido, que se passa inteiramente dentro de um shopping center, encontra a sensibilidade feminista e formalista da visionária Chantal Akerman nesta visão cativante e única do amor e sobrevivência na era do capitalismo tardio.

 

Do leste

(D’Est)

França, Bélgica, Portugal | 1993 | 110 min | DCP

Da Alemanha Oriental a Moscou, passando pela Polônia, Lituânia e Ucrânia, Chantal Akerman registra, após o colapso do bloco soviético, os corpos e rostos de pessoas anônimas, suas expressões ilegíveis, seja caminhando ou simplesmente esperando algo. Ela filma edifícios, paisagens, neve, o anoitecer e oferece uma gama de impressões audiovisuais que constituem um poema impressionista e fascinante. Akerman filmou tudo que lhe tocou, selecionando e se fixando em sons e imagens enquanto segue o fio dessa travessia subjetiva. Sem diálogos ou comentários, esta obra magnífica é uma elegia cinematográfica.

 

A mudança

(Le déménagement)

França | 1993 | 40 min | DCP

Um homem solitário acaba de se mudar para um apartamento moderno. Ele se lembra do apartamento anterior e questiona a si mesmo se fez a escolha certa. Chantal Akerman, que realizou esta preciosidade para a televisão francesa, explora as crises do cotidiano e a solidão, tema que sempre está presente em suas obras, através de um magistral monólogo do ator Sami Frey.

 

A prisioneira

(La captive)

Bélgica, França | 2000 | 114 min | DCP

A relação entre Simon, um jovem possessivo, e Ariane, sua amante passiva. Ele está convencido de que ela está tendo um caso com uma mulher. Enquanto Simon implacavelmente persegue cada movimento dela, os dois se encontram presos em um ciclo de ciúme, desejo erótico e autodestruição. Adaptando o quinto volume de “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, Chantal Akerman transforma o material em um estudo hipnotizante de voyeurismo, controle e obsessão sexual.

 

A loucura de Almayer

(La folie Almayer)

Bélgica, França | 2011 | 122 min | DCP

A história de um comerciante ocidental, Kaspar Almayer, cujos sonhos de riqueza para sua amada filha, Nina, desmoronam sob o peso de sua própria ganância e preconceito. Adaptado do romance de Joseph Conrad, o filme sensualmente atmosférico de Chantal Akerman é uma crítica incisiva do colonialismo em seus últimos dias envolto em uma saga de paixão, perda e loucura.

 

 

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