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O Mundo Proibido da Tchecoslováquia
13 de setembro de 2024

De 26 de setembro a 13 de outubro, a Cinemateca Capitólio e a Czech Art apresentam a mostra O Mundo Proibido da Tchecoslováquia, um panorama dos “filmes do cofre”, como ficaram conhecidas as obras banidas no país após a invasão soviética no ano de 1968. Com narrativas subversivas, satíricas e sombrias produzidas entre 1964 e 1972, período de grande efervescência cinematográfica nos territórios tchecos e eslovacos, a programação destaca clássicos consagrados e raridades inéditas no Brasil, dirigidas por nomes como Miloš Forman, Věra Chytilová, Juraj Jakubisko, Dušan Hanák e Jiří Trnka.

Todas as sessões têm entrada franca.

 

O MUNDO PROIBIDO DA TCHECOSLOVÁQUIA

O cinema da Tchecoslováquia é um capítulo à parte na explosão dos Novos Cinemas dos anos 1960. No início da década, entre Praga (atual Tchéquia) e Bratislava (atual Eslováquia), uma nova geração de diretores ganha corpo com uma coleção de filmes inovadores que rapidamente atraem olhares de todo o mundo. No fenômeno conhecido localmente como o “milagre do filme tchecoslovaco”, surgem no mapa do cinema internacional diretores como Štefan Uher, Miloš Forman, Jaromil Jireš, Juraj Jakubisko, Věra Chytilová, Evald Schorm, Jan Neměc, entre muitos outros.

Todos compartilham a mesma formação – os estudos na FAMU, lendária escola pública de cinema fundada em 1946, ainda nos primeiros suspiros socialistas pós-Segunda Guerra Mundial – e uma condição de criação privilegiada: ao longo da década de 1960, houve um processo de descentralização da produção cinematográfica do país (com núcleos produtores comandados por intelectuais, escritores e roteiristas) que possibilitou uma diversidade alucinante de realizações. No socialismo tchecoslovaco dos anos 1960, havia estrutura, excelência de formação, financiamento e liberdade. Nenhum outro “novo cinema” pôde emergir de um contexto tão inspirador. Quando ocorreu a chamada Primavera de Praga, em 1968, consagração das boas vibrações do “socialismo com a face humana” da política do chefe de estado Alexander Dubček, a Nova Onda já estava consolidada. Entre realizações ousadas de inclinação surrealista, comédias catárticas, dramas maduros, animações delirantes e documentários criativos, o cinema da Tchecoslováquia destacava-se nos principais festivais do mundo e em premiações estrangeiras – o país ganhou duas estatuetas no Oscar, celebração da indústria dos Estados Unidos, entre 1965 e 1968.

As complexidades políticas do país influenciaram a produção de filmes naqueles anos, mas o grande evento transformador ocorreu em agosto de 1968: a invasão das tropas do Pacto de Varsóvia que abortou os desejos da Primavera. No cinema, o impacto foi praticamente imediato. Os arroubos ousados da geração “milagrosa”, que naquele momento experimentava uma intensa radicalização estética e temática, foram interrompidos em pleno vôo. Toda a estrutura que favorecia a criatividade dos diretores foi destituída. Muitos cineastas e roteiristas ficaram anos sem a permissão para filmar. Interditou-se, até os anos 1990, a circulação de dezenas de filmes, incluindo títulos que ainda não haviam sido exibidos.

Com vinte e cinco filmes produzidos entre Praga e Bratislava, a mostra convida a cinefilia porto-alegrense a aventurar-se nos perigos e encantos do mundo proibido da Tchecoslováquia!

Produção e programação: Věra Matysíková e Leonardo Bomfim

Assistência de produção e legendagem: João Boeira

Realização: Cinemateca Capitólio, Associação Cultural Tcheco-Brasileira de Porto Alegre, Embaixada da República Eslovaca no Brasil, Consulado Geral da República Tcheca em São Paulo, CzechArte, NFA e SFU.

 

FILMES

O Acusado

(Obžalovaný)

Tchecoslováquia | 1964 | 90 min | DCP

Direção: Elmar Klos, Ján Kadár

Kurdrna, Potůček e Zelenka, administradores de uma construtora civil, são acusados de desviar dinheiro. Adaptação de romance de Lenka Hašková, esse testemunho perturbador do abuso da lei na Tchecoslováquia dos anos 1960 foi retirado de distribuição em 1971.

 

Hélade Moravia

(Moravská Hellas)

Tchecoslováquia | 1964 | 34 min | DCP

Direção: Karel Vachek

Uma peça cinematográfica em torno dos festivais folclóricos tradicionais da Morávia em Strážnice. A abordagem incomum do filme – misturando humor e agressão intelectual – causou furor e indignação, bem como admiração nos círculos culturais e políticos oficiais. Documentarista promissor, Vachek foi obrigado a deixar o cinema após 1968.

 

O Caso de Barnabas Kos

(Prípad Barnabáš Kos)

Tchecoslováquia | 1964 |92 min | DCP

Direção: Peter Solan

“Zelo, disciplina e modéstia” – são estas as qualidades que a máquina burocrática tem em conta quando decide promover um tocador de triângulo ao cargo de diretor de orquestra. Pérola kafkiana do cinema tchecoslovaco, a obra precisou de quase dez anos para que sua realização fosse autorizada.

 

Órgão

(Organ)

Tchecoslováquia | 1964 | 91 min | DCP

Direção: Štefan Uher

Durante a Segunda Guerra, um jovem desertor polonês, organista talentoso, encontra abrigo dos fascistas num monastério franciscano na Tchecoslováquia. O segundo longa-metragem de um dos precursores da Nova Onda caiu no cofre durante os anos 1970.

 

Dama Branca

(Bílá paní)

Tchecoslováquia | 1965 | 91 min | DCP

Direção: Zdeněk Podskalský

O castelo tem seu próprio fantasma, a misteriosa Dama Branca que emerge de uma pintura na parede quando alguém diz uma fórmula mágica. Parábola mordaz sobre a sociedade tchecoslovaca da época, o filme permaneceu mais de 20 anos trancado no cofre.

 

A Mão

(Ruka)

Tchecoslováquia | 1965 | 18 min

Direção: Jiří Trnka

Um oleiro acorda feliz e segue sua rotina, até que alguém bate em sua porta. O último filme de um dos grandes mestres do cinema de animação. Após sua morte, em 1969, as cópias do filme foram confiscadas e banidas da Tchecoslováquia ao longo de duas décadas.

 

Fuga Sobre Teclas Pretas

(Fuga na černých klávesách)

Tchecoslováquia | 1965 | 34 min | DCP

Direção: Drahomíra Vihanová

Estudante de música na Academia de Praga, um jovem africano prepara-se para um concerto ao piano no qual será o solista principal. Filme universitário de Drahomíra Vihanová, diretora promissora que, a partir dos anos 1970, teve sua carreira interditada.

 

As Pequenas Margaridas

(Sedmikrásky)

Tchecoslováquia | 1966 | 76 min | DCP

Direção: Věra Chytilová

Como o mundo está corrompido, duas jovens decidem embarcar em uma série de brincadeiras destrutivas nas quais consomem e destroem o que está ao redor delas. Uma das obras-primas da Nova Onda Tcheca de grande reconhecimento mundial, o filme foi tirado de circulação a partir dos anos 1970.

 

A Festa e os Convidados

(O slavnosti a hostech)

Tchecoslováquia | 1966 | 71 min | DCP

Direção: Jan Němec

Durante um piquenique, um grupo de amigos encontra um desconhecido que fala coisas incompreensíveis e os convida para um banquete incomum. “Banido para sempre” pelo então presidente Antonín Novotný em 1966, o filme acabou liberado dois anos depois e estava concorrendo à Palma de Ouro na histórica edição de Cannes de 1968 que foi interrompida por questões políticas. No mesmo ano, Němec documentou, no calor da hora, a invasão dos tanques soviéticos. Ameaçado, precisou exilar-se por duas décadas.

 

Ajudantes

(Pomocníci)

Tchecoslováquia | 1968 | 5 min | 16mm

Direção: Josef Kluge

Raridade da tradicional escola de animação da Tchecoslováquia, Ajudantes é uma atualização sombriamente satírica e astutamente subversiva do mito de Sísifo produzida com a técnica do stop-motion.

 

O Baile dos Bombeiros

(Hoří, má panenko)

Tchecoslováquia/Itália |  1968 | 71 min | DCP

Direção: Miloš Forman

O Corpo de Bombeiros de uma pequena cidade realiza uma grande festa em celebração ao aniversário de 86 anos de um antigo chefe do departamento. Toda população comparece, mas uma série de acontecimentos inesperados impede que o evento seja considerado um sucesso. Banido a partir de 1968, o filme é o último que Forman realizou antes de emigrar para os Estados Unidos.

 

Reformatório

(Pasťák)

Tchecoslováquia | 1968 |  91 min | DCP

Direção: Hynek Bočan

Um jovem professor de uma escola rural é enviado para um reformatório em Praga, onde enfrenta a brutalidade dos internos e a conivência dos demais professores. Interditado antes mesmo do lançamento, o filme só foi exibido em 1990.

 

A Piada

(Žert)

Tchecoslováquia | 1968 | 80 min | DCP

Direção: Jaromil Jireš

O governo intercepta um cartão postal que Ludvík envia para a sua namorada, Markéta, com uma piada a respeito dos estudos dela mencionando Trotsky. Baseado no livro de Milan Kundera, que também assina o roteiro. Sucesso nos cinemas do país durante um breve período de exibições, em 1969, o filme acabou trancado no cofre por mais de 20 anos.

 

Afinidades Eletivas

(Spřízněni volbou)

Tchecoslováquia | 1968 | 85 min | DCP

Direação: Karel Vachek

Em 1968, o jovem realizador de cinema Karel Vachek realizou um feito sem precedentes na Tchecoslováquia socialista. Com uma câmera portátil de 16 mm conectada a um gravador, ele penetrou diretamente nos corredores políticos e capturou, às vezes até sem o conhecimento dos participantes, a atmosfera tempestuosa da Primavera de Praga. Depois desse filme, o diretor ficou mais de 20 anos sem filmar.

 

Andorinhas Por um Fio

(Skřivánci na niti)

Tchecoslováquia | 1969 | 94 min | DCP

Direção: Jiří Menzel

Um saxofonista, um filósofo e um procurador, entre outros personagens, são enviados a campo de trabalho em um ferro-velho para libertarem-se dos costumes burgueses. Em outro setor, as mulheres estão confinadas. O flerte é inevitável. Baseado em romance de Bohumil Hrabal, sátira do período de influência stalinista na Tchecoslováquia, anos 1950, o filme só foi lançado oficialmente em 1990, no Festival de Berlim, onde ganhou o prêmio de melhor direção.

 

O Sétimo Dia, a Oitava Noite

(Den sedmý, osmá noc)

Tchecoslováquia | 1969 | 103 min | DCP

Direção: Evald Schorm

Um grupo de teatro viajante chega em um vilarejo e acaba provocando desconfiança e pânico na população. Um dos mais sombrios e desconfortáveis filmes da Nova Onda, O Sétimo Dia, a Oitava Noite teve seu lançamento interditado por mais de 20 anos.

 

Todos os Bons Companheiros

(Všichni dobří rodáci)

Tchecoslováquia | 1969 | 120 min | DCP

Direção: Vojtěch Jasný

Cenas da vida de uma comunidade na Morávia, durante as mudanças políticas vivenciadas entre as décadas de 1940 e 1950. Jasný dividiu o prêmio de direção em Cannes, em 1969, com Glauber Rocha, que apresentou O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. Logo depois, o filme caiu no cofre e acabou interditado até 1990.

 

Cerimônia Fúnebre

(Smuteční slavnost)

Tchecoslováquia | 1969 | 67 min | DCP

Direção: Zdenek Sirový

Uma mulher quer enterrar o marido no túmulo da família, mas as autoridades políticas e religiosas da aldeia não admitem o retorno do corpo daquele homem, um camponês marcado pela rebeldia. Inspirado em obra da escritora Eva Kantůrková, o filme só teve a exibição autorizada vinte anos depois de sua realização.

 

Pássaros, Órfãos e Tolos

(Vtáčkovia, siroty a blázni)

Direção: Juraj Jakubisko

Tchecoslováquia | 1969 | 81 min | DCP

Três adolescentes órfãos de guerra isolam-se numa existência anárquica e lúdica de negação e alegria juvenil. Realizado logo após a invasão soviética, essa distopia lisérgica traduz de maneira radical o estado de espírito atormentado de um país. Suas exibições foram proibidas até 1990.

 

322 

(322)

Tchecoslováquia | 1969 | 93 min | DCP

Direção: Dušan Hanák

Jozef Lauko, empregador de um matadouro, fica sabendo de seu diagnóstico de câncer pelo número “322” e vê isso como uma punição por seus atos passados. Considerado pela crítica especializada o maior filme eslovaco de todos os tempos, a estreia de Hanák permaneceu banida até o fim dos anos 1980.

 

O Cremador

(Spalovač mrtvol)

Tchecoslováquia | 1969 | 102 min | DCP

Direção: Juraj Herz

Na Tchecolosváquia sob iminência de uma invasão alemã, cremador nacionalista se contamina pela ideologia nazista e começa a enlouquecer. Obra-prima assustadora da Nova Onda, o filme de Herz chegou a ser indicado como representante do país no Oscar, mas foi tirado de circulação em 1973.

 

Orelha

(Ucho)

Tchecoslováquia | 1970 | 94 min | DCP

Direção: Karel Kachyňa

Ludvík é um alto funcionário do Partido Comunista da então Tchecoslováquia. Após voltar de uma festa organizada pelo governo, desconfia que sua liberdade está em risco por conta de um relatório que ajudou a redigir no trabalho. Ao chegarem em casa, ele e sua esposa encontram o portão arrombado e diversos dispositivos de escuta espalhados pela residência. Finalizado em 1970, Orelha permaneceu proibido até 1990. O roteirista Jan Procházka, importante escritor e produtor de cinema daquela geração, morreu em 1971, aos 41 anos, como um dos intelectuais mais vigiados do país.

 

Nau dos Loucos ou Contos do Fim da Vida

(Archa bláznů aneb Vyprávění z konce života)

Tchecoslováquia | 1970 |  105 min | DCP

Direção: Ivan Balada

A corda bamba da sanidade de um médico envelhecido e exausto que trabalha em um hospital para pacientes com distúrbios mentais.  Após as mudanças no comando do cinema no país, Ivan Balada não teve permissão para terminar sua parábola sombria, inspirada no conto de Tchekhov, Enfermaria n°6. O filme só foi lançado em 1990.

 

O Martelo das Bruxas

(Kladivo na čarodějnice)

Tchecoslováquia | 1970 | 103 min | DCP

Direção: Otakar Vávra

Baseando-se em registros históricos dos julgamentos de “bruxas” numa cidade tcheca entre 1678 e 1695, com roteiro de Ester Krumbachová, mentora criativa da Nova Onda, o filme documenta, no calor da hora, a atmosfera de paranoia e perseguição do fim dos anos 1960. Mesmo com o prestígio de Otakar Vávra, um dos grandes mestres do cinema tchecoslovaco, o filme foi tirado de circulação logo após sua estreia comercial.

 

Lírios do Campo

(Ľalie poľné)

Tchecoslováquia | 1972 | 77 min | DCP

Direção: Elo Havetta

Dois ex-soldados buscam estabilidade e amor ao voltarem para casa após a Primeira Guerra Mundial. Segundo e último longa-metragem de um dos mais talentosos diretores da Tchecoslováquia, Elo Havetta, que se suicidou em 1975, aos 36 anos, depois de ver todas as suas obras interditadas.

 

GRADE DE HORÁRIOS

 

26 de setembro (quinta-feira)

19h30 – O Baile dos Bombeiros

 

27 de setembro (sexta-feira)

17h – O Martelo das Bruxas

19h30 – 322

 

28 de setembro (sábado)

17h – Ajudantes + O Caso de Barnabas Kos

19h30 – A Piada

 

29 de setembro (domingo)

17h – Todos os Bons Companheiros

19h30 – Lírios do Campo

 

1º de outubro (terça-feira)

19h30 – Cerimônia Fúnebre

 

02 de outubro (quarta-feira)

19h30 – Andorinhas Por um Fio

 

03 de outubro (quinta-feira)

19h30 – Afinidades Eletivas

 

04 de outubro (sexta-feira)

17h – Nau dos Loucos ou Contos do Fim da Vida

19h30 – Projeto Raros: Pássaros, Órfãos e Tolos

 

05 de outubro (sábado)

17h – Dama Branca

19h – Orelha

 

06 de outubro (domingo)

17h – O Martelo das Bruxas

19h – O Cremador

 

08 de outubro (terça-feira)

19h30 – Reformatório

 

09 de outubro (quarta-feira)

19h30 – O Acusado

 

10 de outubro (quinta-feira)

19h30 – Nau dos Loucos ou Contos do Fim da Vida

 

11 de outubro (sexta-feira)

17h – O Baile dos Bombeiros

19h30 – A Mão + A Festa e os Convidados

 

12 de outubro (sábado)

17h – Órgão

19h – O Sétimo Dia, a Oitava Noite

 

13 de outubro (domingo)

17h – Hélade Moravia + Fuga Sobre Teclas Pretas

18h30 – Cineclube Academia das Musas: As Pequenas Margaridas

 

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