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Texto de apresentação – Filme como um objeto no espaço: Um olhar sobre acervos de cinema
7 de julho de 2022

“Filme como um objeto no espaço: Um olhar sobre acervos de cinema”

Cinemateca Capitólio

Dias 8 a 17 de julho de 2022

 

Curadoria e produção: Mutual Films

 

Texto de apresentação

 

Certa vez programamos um filme e esperamos ansiosos para assistir sua cópia restaurada. Era um filme que de fato não existia antes de sua restauração, pois ele nunca havia sido terminado pelo cineasta. Quando recebemos e abrimos o arquivo digital, sentimos uma decepção com a qualidade da cópia. A nossa expectativa era de uma imagem impecável, e não de cores esmaecidas que oscilavam de uma cena para outra, com evidente falta de definição tanto na imagem, quanto no som. Eventualmente assistimos um documentário sobre o processo de restauração daquelas imagens e descobrimos que estávamos diante de uma joia: Foi provavelmente o melhor resultado que poderia existir para o filme, cujos negativos haviam ficado perdidos por mais de trinta anos e foram finalmente encontrados e recuperados a partir de materiais com notável deterioração.

Os materiais de um filme podem ser descobertos em um acervo estatal, um galpão comercial, em uma geladeira ou embaixo de uma cama em uma residência. Os elementos encontrados no processo são para arquivistas, preservacionistas e restauradores o que as peças de utensílios domésticos, partes de paredes, sarcófagos, em um terreno histórico, são para arqueólogos. Nos dois casos, é impossível reconstruir o passado, porém é possível construir uma ideia dele, a qual será envolvida por conceitos e ferramentas de um presente que logo também deixará de existir. O importante é tentar entender e transmitir como foi a obra original, sem buscar substitui-la.

A mostra “Filme como um objeto no espaço: Um olhar sobre acervos de cinema” surgiu do desejo de mostrar ao público diferentes instituições de preservação e propostas de restauração a partir de filmes de suas coleções. Ela traz ao longo de dois fins de semana, dez sessões de cinema, apresentações e debates, uma amostragem de recentes projetos de preservação e restauração feitos ao redor do mundo. São representados esforços tanto de instituições públicas – como o ICAIC em Cuba, o Eye Filmmuseum na Holanda, o Institut Français na França, a Biblioteca do Congresso nos Estados Unidos, a Cinemateca Capitólio no Brasil -, quanto de ONGs como o Arsenal – Institut für Film und Videokünst e.V. e o Postwar Japan Moving Image Archive, junto a empresas privadas e familiares como a Arbelos Films, a Fundación Cine Documental, a Waka Films, a Kino Lorber e a Pique-Bandeira Filmes. Essas organizações frequentemente trabalham em parceria entre si e com os próprios cineastas, cujos cuidados com seus acervos particulares são de um valor inestimável para a futura preservação das obras.

A frase “filme como um objeto no espaço” vem do título de um capítulo do livro recém-lançado Scratches and Glitches: Observations on Preserving and Exhibiting Cinema in the 21st Century (em tradução livre, Riscos e Glitches: Observações sobre a preservação e exibição de cinema no Século XXI), escrito pelo esloveno Jurij Meden, um preservacionista e curador de cinema que atualmente trabalha no Museu de Cinema da Áustria (também uma das instituições representadas na mostra). O livro é uma compilação de breves ensaios provocativos que tentam, de maneiras diferentes, problematizar e desafiar o conceito de restauração de cinema ao colocá-la como um gesto subjetivo, artístico e fundamentalmente provisório. A seleção de filmes da mostra conta inteiramente com obras originalmente finalizadas em película, apresentadas aqui em suas melhores versões digitais da atualidade. Um filme é sempre um objeto no espaço, mesmo quando seu suporte e origens não sejam analógicos, pelo fato de existirem em um mundo atual e físico.

A mostra “Filme como um objeto no espaço: Um olhar sobre acervos de cinema” é dedicada à memória de Armin Elkins (1933-2022), um homem calmo e amoroso e avô de um dos curadores do evento, que faleceu em maio deste ano, durante o período de produção. E, também, à memória do cineasta norte-americano experimental Luther Price (1962-2020), cujo trabalho com sujeira e resíduo na película colocou a magia do cinema como algo essencialmente intransferível.

 

 

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