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Sobre Thom Andersen
10 de janeiro de 2018

“Sobre Thom Andersen”
Por Adam R. Levine
Adam R. Levine trabalhou com Thom Andersen em quatro filmes. No texto a baixo,
escrito em setembro de 2017, ele descreve sua relação com o cineasta. Adam R. Levine trabalhou com Thom Andersen em quatro filmes. No texto inédito a baixo, ele descreve sua relação com o cineasta. A mostra “Hollywood e além: O cinema obstinado de Thom Andersen” continua nesta terça-feira na Cinemateca Capitólio. O filme de Levine, Koh (2010), passará junto com o filme Hollywood Vermelha (1996), de Thom Andersen e Noël Burch.

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Eu conheci o Thom Andersen ao me inscrever para sua aula “Cinema Hoje”, durante meu
primeiro semestre como estudante de pós-graduação na CalArts [California Institute of
the Arts]. Me senti um pouco intimidado, já havia visto Los Angeles por ela mesma
(2003) e lido seus textos na Film Comment, e, por isso, tentei impressiona-lo listando os
filmes de seu programa de aulas que eu havia assistido. Provoquei nele um efeito
contrário – ele sugeriu que eu considerasse me inscrever em um outro curso, porém eu
acho que estava apenas brincando. A bem da verdade, dez anos depois eu continuo sem
saber se ele estava brincando ou não. Eu acabei atendendo à classe e foi uma revelação.
Todas as semanas nós assistíamos cópias imaculadas de filmes de cineastas como
Apichatpong Weerasethakul, Jafar Panahi e Aki Kaurismäki, seguidas por amplas
discussões que abordavam assuntos variados como arquitetura, política externa
americana, anúncios de rede de motéis e a culinária de Sichuan.
A erudição de Thom sobre cinema é bem documentada, mas o que eu aprendi com ele é
que qualquer assunto pode ser revelador quando abordado com foco adequado, paciência
e atenção generosa. Eu acabei apreciando suas típicas longas pausas que podem gerar um
pouco de ansiedade para quem não está acostumado a vê-lo falar. Ele é um orador preciso
e um pensador rigoroso, como pode ser visto nas anotações diárias que faz em blocos de
papel amarelo. São nesses blocos que enchem os escritórios de sua casa e da CalArts que
ele faz a maior parte de seu trabalho, rascunhando artigos, sequenciando edições e
tomando notas copiosas em salas escuras de cinema, um hábito que eu adquiri dele e que
agora passo para meus próprios alunos.
Fora da CalArts, eu comecei a trabalhar com Thom em diversas atividades, a primeira
sendo em um verão, quando o ajudei a organizar a série “Los Angeles: A City in Film”
(https://www.filmmuseum.at/jart/prj3/filmmuseum/main.jart?j-j-
url=/en/film_program/scope&schienen_id=1219068748227&ss1=y) para a Viennale
[Festival de Viena] de 2008. Foi durante esse período que eu fui exposto ao seu
meticuloso processo de pesquisa, ao ajuda-lo a juntar artigos do Los Angeles Times e ao
acompanha-lo em visitas a acervos de filmes pela cidade. Nós também nos tornamos
amigos, frequentemente almoçando comida mexicana no Costa Alegre (como
continuamos a fazer) e satisfazendo nosso amor mutuo por café forte. Eu nunca fui
tentado a acompanha-lo em seus regulares intervalos para fumar, mas eu apreciava a
maneira como eles impunham pausas – muito parecidas como suas pausas verbais – para
conversar, planejar e pensar.

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No meio da pós-graduação, eu decidi parar por um semestre e Thom me ofereceu um
trabalho como assistente em seu filme Get Out Of The Car (2010), para o qual acabei
sendo um dos cinematógrafos e o editor principal. Eu tive um bloqueio criativo e ajuda-lo
nesse projeto me deu um ímpeto de frescor para meu próprio trabalho e no que eu
classificaria agora de um crescente vício pela cidade de Los Angeles. Nós passamos dias
incontáveis procurando por locações, filmando e captando sons, acumulando milhas em
meu Toyota Yaris, visitando lugares que eu só conhecia por placas de saída nas
autoestradas – Vernon, Downey, El Monte, Alhambra, Watts, Southgate –, e por aí vai.
Graças ao Thom, provavelmente, eu sei mais sobre esses lugares do que muitos nativos
de Los Angeles, e, certamente, sei onde encontrar uma boa refeição na maioria deles.
Todos os filmes de Thom, cada um à sua maneira, me influenciaram, ainda que eu
costume destacar Get Out Of The Car, por suas estratégias formalistas, e Los Angeles por
ela mesma, por seu ponto de vista. Atualmente eu estou completando Communion Los
Angeles, um filme sobre a cidade que estou fazendo com Peter Bo Rappmund, outro
amigo e colaborador de Thom Andersen. Nossa dívida com ele é considerável e me
parece redundante dizer que a forma como eu trabalho é fruto da exposição que tive aos
seus pensamentos e à sua prática. Conviver com o Thom me expos, não apenas a uma
filosofia do cinema, mas a uma curiosa, empática e atenta maneira de existir no mundo.

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