A Cinemateca Capitólio e a Vai e Vem Produções apresentam nos dias 16 e 17 de dezembro, sábado e domingo, a mostra Germaine Dulac: muito além da vanguarda, com uma seleção de filmes que destaca a obra da grande pioneira do cinema experimental.
A programação estabelece um diálogo da cinematografia de Dulac com obras de outras realizadoras de vanguarda, como Maya Deren, Marie Menken, Rose Lowder, Narcisa Hirsch, entre outras.
No sábado, 16 de dezembro, às 19h, a exibição de A Concha e o Clérigo, filme mais célebre de Dulac, e Na Terra, obra-prima de Maya Deren, será comentada por Carine Wallauer, Daniela Strack e Priscila Ferraz Pasko.
Com entrada franca, a mostra tem o apoio da Cinemateca da Embaixada da França e do Institut Français.
GERMAINE DULAC
Pioneira do cinema de vanguarda e do cinema feminista, Germaine Dulac é figura incontornável da cultura cinematográfica internacional. Desde o fim dos anos 1910, quando realizou seus primeiros filmes e começou a escrever influentes ensaios sobre a estética do cinema, ajudou a legitimar o cinema como uma arte autônoma, ao mesmo nível das demais, assim como abriu caminhos para experimentação ao largo das práticas cinematográficas dominantes. Junto a cineastas como Louis Delluc, Jean Epstein, Abel Gance e Marcel L’Herbier, que também defendiam um cinema autoral, formou no início dos anos 1920 o primeiro movimento de vanguarda no cinema francês, conhecido posteriormente como Cinema Impressionista. Em longas-metragens narrativos, esses realizadores fizeram amplo uso de recursos propriamente cinematográficos como fusões, desacelerações, distorções de lente, mudanças de foco, extremos close-ups, movimentos de câmera e diversas técnicas de montagem no sentido de expressar ou representar experiências subjetivas. Desse modo, Dulac realizaria ousadas produções em termos formais que exploravam e transmitiam a subjetividade feminina – os sonhos, fantasias e desejos de suas personagens – sob um ponto de vista pioneiramente feminista, como em A Sorridente Madame Beudet (1923), Alma de Artista (1924) e Antoinette Sabrier (1927) e algo queer, como em Um Convite à Viagem (1927), realizado com a assistência de sua então companheira, Marie-Anne Colson-Mallevile. Em 1927 realizaria a sua obra mais conhecida, A Concha e o Clérigo, com roteiro do dramaturgo e poeta Antonin Artaud. Considerado o primeiro filme surrealista, A Concha e o Clérigo dava forma concreta aos processos de pensamento inconscientes por meio de uma sucessão implacável e imprevisível de imagens, aparentada à mecânica dos sonhos. Não estava assim limitado pelas convenções de coerência narrativa, continuidade espaço-temporal e caracterização de personagens ainda presentes nos filmes anteriores de Dulac. Essa recusa das convenções do cinema narrativo seria radicalizada ao fim da década de 1920 após longo período de reflexão sobre as técnicas do cinema (inspiradas em tendências modernas da dança, música e poesia) para moldar os feixes de luz, construir ritmos visuais, transmitir sensações e deleitar os sentidos, o que culminaria na realização de três filmes “puros” ou “ensaios cinegráficos”. Disco 957, Temas e Variações e Estudo cinegráfico sobre um Arabesco (1929) são pequenas sinfonias visuais ordenadas ritmicamente pela montagem, compostas por imagens que se equilibram entre a figuração e a abstração.
SOBRE A MOSTRA
Na mostra Germaine Dulac: muito além da vanguarda serão exibidos seis filmes vanguardistas da realizadora, recentemente restaurados. Do restante da extensa produção de Dulac serão exibidos também outras produções de sucesso que conjugavam modos narrativos mais tradicionais com inovadoras técnicas cinematográficas como Alma de Artista (1924) e Um Convite à Viagem (1927). Todas essas produções serão exibidas em cópias restauradas, incluindo-se também o icônico filme A Sorridente Madame Beudet, que completa neste mês de novembro 100 anos de sua primeira exibição pública. As sessões serão acompanhadas por produções que antecipam algumas das preocupações de Dulac e alguns filmes que estabelecem diálogo direto com aqueles da cineasta. Além disso, serão exibidos um grande conjunto de curtas-metragens de realizadoras que, desde os anos 1930 até a atualidade, seguiram distintos caminhos de experimentação no cinema abertos por Dulac. Cada filme da cineasta será assim exibido junto a produções que possuem propostas conceituais e temáticas afins ou desenvolvem pesquisas formais anteriormente esboçadas por Dulac. Pretende-se assim associar e desdobrar cada produção da cineasta francesa a um conjunto de filmes de realizadoras tão diversas como Maya Deren, Rose Lowder, Marie Menken, Raymonde Carasco, Ana Vaz, Abigail Child, Narcisa Hirsch, entre outras.
SOBRE AS DEBATEDORAS
Carine Wallauer
A produção artística de Carine Wallauer transita entre a técnica e a experimentação com imagens, sejam estas estáticas ou em movimento. Sua obra integra a coleção de Joaquim Paiva e está presente nos acervos do MAM RJ, IMS SP e MAC RS. Além de colaborar em projetos de outros cineastas, se dedica a Copan, seu primeiro longa como roteirista e diretora. Participou de laboratórios de talentos em dois dos mais conceituados festivais de cinema do mundo: Berlinale – Festival Internacional de Cinema de Berlim e IDFA – Festival Internacional de Documentários de Amsterdã.
Daniela Strack
Daniela Strack é mestre em Comunicação pelo PPGCOM/UFRGS (2022) e graduada em Cinema pela PUCRS (2014). Sua dissertação de mestrado sobre a cineasta Helena Ignez recebeu menção honrosa no Prêmio Socine de Teses e Dissertações 2023. Trabalha no mercado cinematográfico desde 2012, integrando as equipes de direção e montagem de diversos filmes gaúchos. É assistente de direção dos longas-metragens Tinta Bruta (Filipe Matzembacher e Márcio Reolon, 2018), A Colmeia (Gilson Vargas, 2019), Raia 4 (Emiliano Cunha, 2019), 5 Casas (Bruno Goulart Barreto, 2020), Despedida (Luciana Mazeto e Vinícius Lopes, 2021), A Nuvem Rosa (Iuli Gerbase, 2021), além da série Caixa Preta (Jaime Lerner, 2017). Foi presidenta da Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul (APTC-RS) na gestão 2019-2021. É membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS).
Priscila Ferraz Pasko
Priscila Ferraz Pasko (1983 – Porto Alegre) é escritora, jornalista freelancer na área cultural, colunista no site Literatura RS e graduanda em Bacharelado em História da Arte (Ufrgs) . É autora do livro de contos “Como se mata uma ilha” (Zouk, 2019). A videodança e a dança contemporânea complementam suas práticas e áreas de interesse. Participou de cursos e oficinas de dança contemporânea, assim como da turma 2020 do Grupo Experimental de Dança de Porto Alegre (GED). Paralelamente, administra o perfil @cadernovirtual_de_experimentos, no Instagram, no qual compartilha ensaios de movimento, corpo e palavra. Também dirigiu “Pastagens de dentro”, em parceria com Daniel Castro, videodança na qual atuou. O trabalho recebeu destaque na categoria Melhor Intérprete no III Festival Cinema Negro em Ação (2022) e foi indicado ao Prêmio Açorianos de Dança (2022), na categoria videodança.
SESSÕES (SINOPSES COMPLETAS EM http://www.capitolio.org.br/programacao/)
Sessão 1 (49 min)
Luta de Boxe (Combat de boxe). Direção: Charles Dekeukeleire. 1927. 6 min. P&B.
Estudo cinegráfico sobre um arabesco (Étude cinégraphique sur une arabesque). Direção: Germaine Dulac. 1929. 7 min, P&B. Com: Marie-Anne Colson-Mallevile.
Parábola (Parabola). Direção: Mary Ellen Bute e Ted Nemeth. 1938. 9 min. P&B
Answer Print. Direção: Mónica Savirón. 2016. 5 min, Cor.
Atomic Garden. Direção: Ana Vaz. 2018. 8 min. Cor.
Arabesco para Kenneth Anger (Arabesque for Kenneth Anger). Direção: Marie Menken. 1961. 5 min, Cor. –
Bouquets 11-20. Direção: Rose Lowder. 2005-2009. 10 min. Cor. –
Sessão 2 (64 min)
Temas e Variações (Thèmes et variations). Direção: Germaine Dulac. 1929. 9 min, P&B. Com: Lilian Constantini.
Motim (Mutiny). Direção: Abigail Child. 1982. 10 min, Cor.
Copacabana Beach. Direção: Vivian Ostrovsky. 1983. 10 min. Cor.
Gradiva: Esboço I (Gradiva: Esquisse I). Direção: Raymonde Carasco. 27 min, Cor.
Bouquets 1-10. Direção: Rose Lowder. 1994-1995. 10 min. Cor. –
Sessão 3 (68 min)
A Concha e o Clérigo (La coquille et le clergyman). Direção: Germaine Dulac. Roteiro: Antonin Artaud. 1928. 40 min, P&B. Com: Alex Allin, Genica Athanasiou e Lucien Bataille.
Na Terra. (At Land). Maya Deren, 1944, 14 min. Cor
Sessão 4 (85 min)
Alma de Artista (Âme d’artiste) Direção: Germaine Dulac. 1924. 85 min. P&B. Com: Iván Petrovich, Nicolas Koline, Mabel Poulton, Yvette Andréyor.
Sessão 5 (53 min)
A Sorridente Madame Beudet (La Souriante Madame Beudet). Direção: Germaine Dulac. 1923. 38 min, P&B. Com: Germaine Dermoz, Madeleine Guitty e Jean d’Yd. –
Zeit. Direção: Milena Gierke. 9 min, Cor.
Sessão 6 (58 min)
Dança Excêntrica por Lina Esbrard (Danse Excentrique per Lina Esbrard). Direção: Alice Guy-Blaché. 1902, 1 min. P&B.
Disco 957 (Disque 957). Direção: Germaine Dulac. 1929. 6 min. P&B.
Come Out. Direção: Narcisa Hirsch. 1971. 12 min, Cor.
Um Convite à Viagem (L’invitation au Voyage). Direção: Germaine Dulac. 1927. 39 min, P&B. Com: Emma Gynt, Raymond Dubreuil e Robert Mirfeuil.
GRADE DE HORÁRIOS
16 de dezembro (sábado)
16h30 – Sessão 1 (49 min)
17h30 – Sessão 2 (64 min)
19h – Sessão 3 (68 min) + debate
17 de dezembro (domingo)
15h – Sessão 4 (85 min)
16h30 – Sessão 5 (53 min)
17h30 – Sessão 6 (58 min)