No próximo dia 12 de outubro, Porto Alegre celebra uma data que poucas cidades no mundo têm o privilégio de festejar: os 90 anos de existência de um grande cinema de rua, inaugurado no período áureo dos imponentes palácios de cinema (na década de 20 do século passado), o Cine Theatro Capitólio, que depois de permanecer durante duas décadas fechado, em março de 2015 reabriu suas portas totalmente restaurado e readaptado para ser, além de uma sala de exibição, um espaço de guarda e preservação da memória do cinema gaúcho, agora com o nome de Cinemateca Capitólio Petrobras. Para marcar este aniversário, a Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura e a Fundacine RS, responsáveis pela gestão do espaço, localizado no coração do centro histórico de Porto Alegre (na Rua Demétrio Ribeiro, 1085), prepararam uma programação especial comemorativa, distribuída ao longo de todo o mês de outubro.
Entre o cardápio de atrações, um dos principais destaques será a exibição especial, às 21h do dia 12 de outubro, exatamente 90 anos após sua estreia em Porto Alegre, do filme que inaugurou o Cine Theatro Capitólio em 12 de outubro de 1928, a produção francesa Casanova (1927), de Alexandre Volkoff, considerado um dos títulos mais ousados do cinema silencioso. Estrelado pelo célebre ator russo Ivan Mosjoukine, Casanova notabilizou-se como a primeira grande produção a levar para as telas a vida do conquistador Giacomo Casanova.
A partir de 13 de outubro, a mostra Obras-Primas de 1928 exibe dez grandes filmes realizados no ano da abertura do Cine Theatro Capitólio: A Turba, de King Vidor, A Paixão de Joana d’Arc, de Carl Theodor Dreyer, Braza Dormida, de Humberto Mauro, O Homem das Novidades, de Buster Keaton e Edward Sedgwick, A Queda da Casa de Usher, de Jean Epstein, O Circo, de Charles Chaplin, Solidão, de Pál Fejős, A Montanha do Tesouro, de Aleksandr Dovjenko, A Concha e o Clérigo, de Germaine Dulac, e Vento e Areia, de Victor Sjöström.
Antes disso, no período de 4 e 12 de outubro, o espetáculo Das Cinzas Coração, com direção de Jéferson Rachewsky, irá apresentar uma combinação de cinema e teatro, inspirando-se nas comédias cinematográficas dos anos 1920, especialmente nos filmes realizados por Buster Keaton e protagonizados por Sybil Seely, que serão projetados após a apresentação, com acompanhamento ao vivo do músico Arthur de Faria.
Também foram programadas duas sessões de pré-estreias, com a presença de suas equipes: Música Para Quando as Luzes se Apagam, de Ismael Caneppele (no dia 21 de outubro), e o longa português Djon África (no dia 15 de outubro), com a presença do diretor João Miller Guerra e do ator Miguel Moreira, este em parceria com a distribuidora Vitrine Filmes, habitual colaboradora da Cinemateca Capitólio Petrobras.
Também se destaca na programação a exibição dos filmes premiados na Mostra Gaúcha de Curtas do Festival de Gramado – Um Corpo Feminino, Fè Mye Tale, Sem Abrigo, Grito, Mulher Ltda, Nós Montanha, Abismo e A Formidável Fabriqueta de Sonhos Menina Betina –, que serão debatidos por seus diretores no dia 14 de outubro. A sessão acontece em parceria com a APTC-RS.
Outra importante entidade do cinema gaúcho, a ACCIRS – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, se junta a essas atividades comemorativas, propondo a realização de um debate sobre a preservação dos cinemas de rua, com a presença dos especialistas João Luiz Vieira, da Universidade Federal Fluminense, e Alice Trusz. A atividade acontece no dia 20 de outubro, às 18h, acompanhada da projeção de Bancando o Águia (1924), de Buster Keaton.
No dia 25 de outubro, o Programa de Alfabetização Audiovisual, braço educativo da Cinemateca Capitólio Petrobras, promove uma visita de escolas da Rede Municipal de Educação ao prédio e ao acervo da Cinemateca, seguida pela exibição do filme O Saci (1951), de Rodolfo Nanni, com apoio do CTAv – Centro Técnico do Audiovisual. O projeto conta também com formação docente para os educadores que acompanham as turmas.
Em 27 de outubro, Dia Mundial da Preservação Audiovisual, a Cinemateca Capitólio Petrobras recebe duas sessões muito especiais: Sinfonia Amazônica (1951), de Anélio Latini Filho, primeiro longa de animação realizado no Brasil, e o longa experimental Pontal da Solidão (1974), de Alberto Ruschel, em exibição comemorativa do centenário de nascimento do ator e diretor gaúcho, aqui em sua única incursão na direção. Ainda na área da preservação audiovisual, principal missão do renovado Capitólio, no dia 13 de outubro acontece o resgate histórico de Novos Horizontes, longa-metragem de Ítalo Majeroni Leopoldis realizado em 1934, que será debatido pela historiadora e pesquisadora Alice Trusz.
O Projeto Raros, tradicional sessão da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia que celebrou sua 200ª edição em 2018, ganha uma edição luxuosa, realizada com o apoio do Instituto Moreira Salles, com a exibição de Trás-os-Montes (1976), filme mítico do cinema moderno português, realizado por António Reis e Margarida Cordeiro, que será mostrado no dia 19 de outubro, às 20h, com cópia em DCP restaurada pela Cinemateca Portuguesa.
Finalmente, o Centro de Documentação e Memória da Cinemateca Capitólio Petrobras inaugura em 12 de outubro uma exposição sobre a trajetória da tradicional sala de cinema, com cartazes de filmes ali exibidos ao longo dos anos, documentos, equipamentos e a projeção de depoimentos de diferentes personagens ligados à história do espaço e à sua restauração, registrados pelo cineasta Beto Souza, e editados por alunos do Curso de Realização Audiovisual da Unisinos.