Mostra de Cinemas Africanos volta a Porto Alegre com 15 filmes de 12 países do continente
Evento promove janela de exibição da cinematografia africana contemporânea no Brasil, com diversos títulos inéditos no país. A Cinemateca Capitólio recebe a Mostra em outubro de 2019.
A Mostra de Cinemas Africanos, com curadoria de Ana Camila Esteves e Beatriz Leal Riesco, volta a Porto Alegre entre os dias 15 e 20 de outubro de 2019. Durante a semana, o público poderá conferir uma cuidadosa seleção de filmes africanos e afrodiaspóricos reconhecidos em grandes festivais e respaldados pela crítica e públicos internacionais.
Com o objetivo de mostrar a explosão de riqueza, criatividade e diversidade na última década de uma cinematografia com um pouco mais de meio século de vida, a Mostra reúne 15 títulos procedentes de 12 países, com atenção especial à produção contemporânea. A maioria dos filmes é inédita no Brasil, chance rara de assistir a importantes produções que circularam em grandes festivais e talvez nunca cheguem ao circuito comercial do país. Ao total, são 13 longas e 2 curtas de ficção e documentário projetados na Cinemateca.
A sessão de abertura contará com o longa-metragem Kasala!, autofinanciado, escrito, produzido, dirigido e filmado pela estreante Ema Edosio. O filme conta a alucinante história urbana de amizade e cumplicidade entre quatro jovens, apresentando um retrato fiel e cheio de humor da vida na cidade de Lagos. Com Kasala!, a diretora se une à nova geração de realizadores nigerianos que desafiam a indústria de Nollywood com muito frescor e originalidade. A sessão acontece no dia 15 de outubro, às 20h, com ingressos a R$16 (inteira) e R$ 8 (meia) – valores aplicados a todas as sessões.
A Mostra de Cinemas Africanos se estabelece como um evento itinerante que coloca o Brasil na rota de circulação dos cinemas produzidos na África e sua diáspora. O evento possibilita que o público brasileiro acompanhe anualmente os lançamentos da cinematografia do continente e que crie repertório sobre ela. A Mostra já passou por Salvador, Aracaju e São Paulo, e acontece pela segunda vez em Porto Alegre. Ainda em 2019, leva sua programação para Poços de Caldas, em Minas Gerais.
CURADORIA DESTACA PROTAGONISMO FEMININO
A proeminência das mulheres na programação da Mostra reflete o crescimento exponencial no século 21 de filmes realizados por mulheres na África e na diáspora. As jovens diretoras africanas dominam gêneros tão heterogêneos como a comédia adolescente (Kasala!, da nigeriana Ema Edosio), o curta-metragem poético (Irmandade, da tunisiana Meryam Joobeur), o ensaio autobiográfico (Lua Nova, de Philippa Ndisi-Hermann) ou o melodrama experimental (Ame Quem Você Ama, da sul-africana Jenna Bass).
Outras cineastas optam por usar o cinema como ferramenta de denúncia e espaço de abertura de diálogo, sem deixar de lado o entretenimento. É o caso de Sofia (de Meryen Benm’Barek-Aloïsi) um melodrama social centrado na situação vulnerável da mulher violentada no Marrocos (ganhadora em Cannes do Prêmio de melhor roteiro no Un Certain Regard), ou o poderoso documentário sobre a força do ativismo para se opor a práticas de extração neocoloniais na Libéria (A Luta de Silas, de Hawa Essuman e Anjali Nayar).
HOMENAGEM A DJIBRIL DIOP MAMBÉTY
Em reconhecimento aos pioneiros dos cinemas africanos, serão projetados dois longas de ficção do senegalês Djibril Diop Mambèty (1946-1998), tio de Mati Diop, primeira diretora africana negra a competir pela Palma de Ouro no último Festival de Cannes e vencedora do prêmio do júri. Do Mambéty, autor iconoclasta, irreverente e controverso, Touki Bouki (1973) e Hyènes (1992) são dois clássicos universais que serão exibidos em cópias recentemente restauradas e que ainda hoje ressoam por seus temas, mensagens e estilos cinematográficos.
ATIVIDADES PARALELAS
A sessão de abertura da Mostra de Cinemas Africanos contará com um comentário pós-sessão da curadora Ana Camila Esteves sobre o cinema nigeriano contemporâneo. Após a exibição de Kasala!, a pesquisadora conversa com o públicos sobre as novas propostas estéticas que desafiam a lógica da indústria conhecida como Nollywood, além de abordar o recente papel que a Netflix tem assumido no processo de difusão desses filmes.
Todas as sessões serão apresentadas por Ana Camila, que oferece ao público comentários gerais sobre as obras e seus contextos de produção. A programação conta ainda com o curso Cinemas Africanos Contemporâneos, ministrado pela curadora, que oferta aos interessados um panorama sobre as cinematografias africanas no contexto contemporâneo de produção e difusão. O curso acontece nos dias 15 e 16 de outubro, das 9h às 12h, na Sala Multimídia da Cinemateca Capitólio. As inscrições custam R$ 50 e podem ser feitas através do link: http://bit.ly/cursocinesafricanos
NARRATIVAS DO COTIDIANO E IMAGINÁRIOS ALTERNATIVOS DE ÁFRICA
Com uma curadoria que ressalta a diversidade de gêneros e formatos dos cinemas africanos, a Mostra destaca em sua programação as experiências do cotidiano em grandes cidades africanas, absorvidas por culturas diversas que criam imaginários outros do continente através do cinema, com inovação e originalidade.
Servindo-se dos meios da poderosa indústria de cinema sul-africana, o diretor sul-africano Michael Mathews apresenta uma estimulante alegoria em formato western (Cinco Dedos por Marselha). Já o longa Ame Quem Você Ama é um título exemplar da nova produção de cinema da África do Sul, assinado por um dos nomes mais criativos do país: Jenna Bass. Na região do Magrebe, temos uma história íntima e compassiva de um pai que reavalia sua vida ao se reencontrar com seu filho que abandonou do outro lado do Mediterrâneo (Look at Me, de Néjib Belkadhi). O longa, exibido no Festival de Berlim 2019, é um bom exemplo da força da indústria cinematográfica da Tunísia.
Diante do conjunto de heróis revolucionários de carne e osso que estiveram à frente das independências na África, o imaginário atual dos jovens africanos é composto por heróis dos quadrinhos e do cinema. Samantha Biffot, realizadora do Gabão, nos revela, no documentário O Africano que Queria Voar, o gabonês Luc Bendza, primeiro campeão negro de wushu da história. Sua paixão pelo Kung Fu o levou a seguir os passos dos seus heróis na ficção (Bruce Lee e Wag Yu) e voar para a China para realizar seu sonho e acabar trabalhando com Jackie Chan nas telonas.
O papel da música como ingrediente da identidade cultural e como espaço expressivo íntimo e de interação social são os fios que unem os documentários Bakosó – O Afrobeats de Cuba e A Dança das Máscaras com o média-metragem Nora. Coreógrafa e bailarina de fama internacional, Nora Chipaumire volta ao seu país (Zimbábue) para compor um relato autobiográfico dançado, de imensa força comunicativa. De Moçambique, país vizinho, A Dança das Máscaras (Sara Gouveia) nos apresenta a Atanásio Nyusi, conhecido por sua destreza na dança tradicional Mapiko e nos convida a refletir sobre a história do país desde a colonização. Bakosó, de Eli Jacobs-Fantauzzi, nos coloca em contato com um novo estilo musical afro-cubano que está dominando as ruas de Cuba, fruto da abertura internacional do país e das possibilidades de conexão com a ancestralidade africana.
A programação conta ainda com a produção ruandesa A Misericórdia da Selva, dirigido por Joël Karekezi. O longa conta a história de dois soldados ruandeses separados de sua unidade militar no início da Segunda Guerra do Congo e sua luta para sobreviver em um ambiente hostil na selva em meio a intenso conflito armado. O filme foi vencedor do maior prêmio do FESPACO 2019, mais importante festival de cinemas africanos na África. Exibiremos também a comédia ganesa Keteke, de Peter Sedufia, um desdobramento da influência de Nollywood sobre seus países vizinhos. Estas duas sessões são realizadas com o apoio do Instituto Francês e da Cinemateca Francesa.
SOBRE AS CURADORAS
Ana Camila Esteves (Brasil) é natural de Salvador-BA, bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, mestre e doutoranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela mesma universidade. No mercado da cultura desde 2009, atua na área de planejamento estratégico em comunicação e no desenvolvimento, criação, coordenação e execução de projetos culturais e corporativos. Como pesquisadora, atualmente cursa o doutorado na UFBA, onde estuda as narrativas do urbano nos cinemas africanos. Curadora colaboradora do Africa in Motion Film Festival (Escócia), idealizadora e curadora da Mostra de Cinemas Africanos (Brasil).
Beatriz Leal Riesco (Espanha) é pesquisadora, professora, crítica e curadora especializada em arte e cinema contemporâneos da África, Europa e Oriente Médio. Combina seu trabalho como conferencista e professora com a escrita jornalística e acadêmica em publicações como El País, Cinema Journal, Secuencias, Caracteres, Ars Magazine, Asymptote, Hyperion, Rebelión, Okayafrica y Écrans. Com residência entre os EUA e a Europa, desde 2011 é programadora do New York African Film Festival e África Imprescindible (Espanha). Co-fundadora do Wallay Festival de Cinema Africano de Barcelona (2018), já foi júri em vários festivais internacionais de cinema. Como curadora independente já trabalhou com centros de arte contemporânea reconhecidos internacionalmente como Artium, Azkuna Zentroa, CCCB, Tabakalera, MUSAC, e La Virreina Centre de La Imatge, assim como para cinematecas como Filmoteca de Navarra, Filmoteca Española, Filmoteca de Catalunya, entre outras.
PROGRAMAÇÃO
15 de outubro (terça-feira)
20h – Kasala!, (Nigéria, 2018)
Sessão comentada pela curadora Ana Camila Esteves
16 de outubro (quarta-feira)
18h30 – Nora (Reino Unido, Estados Unidos, 2018) + Bakosó – Afrobeats de Cuba (Cuba, 2019)
20h30 – Ame Quem Você Ama (África do Sul, 2014)
17 de outubro (quinta-feira)
18h30 – A Dança das Máscaras (África do Sul, Portugal, 2018)
20h – Cinco Dedos por Marselha (África do Sul, 2017)
18 de outubro (sexta-feira)
18h30 – Irmandade (Tunísia, 2018) + Lua Nova (Quênia, 2018)
20h30 – Sofia (Marrocos, Catar, França, 2018)
19 de outubro (sábado)
16h30 – A Misericórdia da Selva (Ruanda, França, Bélgica, 2018)
18h30 – Touki Bouki (Senegal, 1973)
20h30- Olhe pra Mim (Tunísia, França, Catar, 2018)
20 de outubro (domingo)
16h30 – O Africano que Queria Voar (Gabão, 2016)
18h – Keteke (Gana, 2017)
20h- Hienas (Senegal, 1992)